segunda-feira, 3 de julho de 2017

Trabalhar ou não

Deparo-me muita das vezes com mães que têm esta mesma dúvida: parar ou não de trabalhar para cuidar do seu filho com necessidades especiais?

Eu trabalhei durante grande parte da minha vida. E quando decidimos ter nosso primeiro filho, acreditava que poderia ficar em casa por um período e trabalhar depois que meu filho estivesse maiorzinho. Afinal, não tínhamos condições para que eu ficasse em casa somente e me dedicasse exclusivamente a ele. Ai quando o Josué nasceu, precisei tomar a decisão de não sair para trabalhar fora. Não foi fácil porque vivemos num país capitalista. Precisamos do dinheiro para sobreviver e dar uma qualidade de vida decente para nossos filhos, e tomar a decisão de não trabalhar fora de casa gera uma angústia muito grande no nosso coração porque precisamos do dinheiro, mas nossos filhos precisam mais de nós e do nosso apoio e dedicação. Principalmente nos primeiros anos de vida onde eles precisam de mais cuidado, de terapias, de atendimentos especializados que certamente vão tomar o nosso tempo, são inúmeras consultas com especialistas, no começo mensal, depois trimestral, depois semestral até chegar anual, mas isso são anos para chegar nesse nível e às vezes não chegamos. Infelizmente há muitos impedimentos para conquistar o Loas, que é um benefício que pessoas com necessidades especiais ou em risco social recebem como ajuda do governo. Mas cada vez mais estão limitando o acesso das pessoas e de seus familiares a este benefício. O que fazer? Algumas mães e pais conseguem dividir o tempo, o pai trabalha num horário, a mãe no outro e assim a criança não fica sozinha durante o dia e tem sempre alguém para levar nas consultas e terapias. Mas nem todo mundo tem esse privilégio ou consegue manobrar a vida para chegar nesse nível, algumas mães como eu que tem alguma habilidade manual consegue fazer alguma trabalho em casa como artesanato, bolo, bombom, vendas em particular, e com isso geram certa renda para a família, mas eu digo que além de ser pouco não é fácil pois dependemos das vendas para gerar essa renda que um mês pode ser de um valor e no outro mês um outro valor.
Outro fator importante dentro deste contexto é não temos um apoio psicológico como deveríamos ter da sociedade médica e do governo para nos ajudar adaptar a esse novo momento na nossas vidas, contamos uns com os outros pais, amigos e familiares de pessoas com necessidades especiais para vencer nossas angústias, dúvidas e até depressão por falta de apoio. A sociedade esquece que nós não escolhemos ter filhos com determinadas necessidades e limitações, eles foram enviados por Deus e precisamos amá-los, respeitá-los e fazer o que for preciso para dar uma qualidade de vida digna para eles. A sociedade dificilmente abraça essa causa junto com as famílias, recebemos críticas, olhares,  sofremos discriminação, preconceito  em muitos lugares, mas em outros mais evoluídos recebemos amor, apoio, companheirismo e dedicação. Nem todas as escolas aceitam nossos filhos, nem todas as festinhas recebem nossos filhos, nem todos os médicos recebem bem os nossos filhos, nem todos vizinhos e amigos olham para nossos filhos. Mas o mais importante que precisamos aprender é que a sociedade vai mudar a partir da nossa aceitação e da nossa transformação pelos nossos filhos, o mundo vai ve-los como nós os vemos, pois nós somos o reflexo da sociedade então precisamos refletir nela o melhor de nós. Não queremos ser vistos como coitados ou uma família super especial, queremos apenas ser tratados como uma família que merece respeito como  qualquer outra família.  Lutaremos sempre pelos direitos dos nossos filhos, e principalmente para que a sociedade os inclua de maneira digna e respeitosa como qualquer ser humano merece.